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Crítica | Modest Mouse: “The Golden Casket”

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De Japanese Breakfast a Car Seat Headrest, de Clap Your Hands Say Yeah a Future Islands, não foram poucos os artistas que encontraram na obra do Modest Mouse um importante componente de inspiração. E isso se reflete em toda uma sequência de registros recentes que utilizam de uma abordagem mais acessível, porém, preservando o caráter torto dos arranjos, estruturas e vozes. Vem justamente desse excesso de trabalhos similares e, talvez melhor resolvidos, a sensação de desgaste que se apodera de The Golden Casket (2021, Epic), primeiro álbum de inéditas do grupo norte-americano desde o confuso Strangers to Ourselves (2015) e uma síntese conceitual de tudo aquilo que Isaac Brock e Jeremiah Green tem produzido em estúdio desde o início da década de 1990.

Divido entre momentos de maior experimentação e faixas deliciosamente cantaroláveis, The Golden Casket alcança um ponto de equilíbrio entre o material entregue nos introdutórios This Is a Long Drive for Someone with Nothing to Think About (1996) e The Lonesome Crowded West (1997), e os temas acessíveis de Good News for People Who Love Bad News (2004) e We Were Dead Before the Ship Even Sank (2007), dois dos registros comercialmente mais bem sucedidos da banda. Um ziguezaguear de ideias e quebras rítmicas que rompe de maneira explícita com a morosidade evidente nas canções de Strangers to Ourselves, tende a convencer uma nova parcela de ouvintes, contudo, pouco acrescenta para quem há tempos acompanha os trabalhos do grupo estadunidense.

E isso fica bastante evidente em toda a série de faixas escolhidas pelo Modest Mouse para anunciar a chegada do registro. São canções como a colorida We Are BetweenLeave A Light On em que a banda traz de volta parte da atmosfera e estrutura crescente que orienta a formação de músicas como Dashboard, Missed The Boat e outros sucessos do grupo. Composições embaladas pelo uso irregular de guitarras timbrísticas e ruídos ocasionais, mas que em nenhum momento perdem o brilho pop. O problema é que tudo soa como uma interpretação simplista de tudo aquilo que a banda já havia testado anteriormente, conceito reforçado em músicas como The Sun Hasn’t Left, fragmento que mais parece uma sobra de estúdio de algum trabalho produzido pelo Portugal. The Man.

Interessante notar nos momentos de menor euforia a passagem para algumas das criações mais significativas do disco. É o caso de Lace Your Shoes. Confessa homenagem de Brock aos próprios filhos, a canção que discute amadurecimento e transformação pessoal reserva ao público uma das letras mais sensíveis já produzidas pelo músico norte-americano. “E espero que ainda haja algo para você / Mal posso esperar para ver quais caminhos você escolherá“, canta em meio a camadas de sintetizadores e melodias enevoadas, como uma parcial fuga dos antigos trabalhos. Esse mesmo esmero acaba se refletindo em outras faixas ao longo do álbum, como nos arranjos cuidadosos e vozes de We’re Lucky, composição que amplia de forma expressiva os limites da obra.

A própria faixa de abertura do disco, Fuck Your Acid Trip, mesmo utilizando de uma abordagem acessível, mostra a capacidade da banda em avançar criativamente, estrutura que vai do reducionismo dos elementos ao avanço ritmado que se conecta diretamente aos versos. “Esse não é meu fim de semana, eu só preciso voltar para casa / Você já sabia que eu não planejava ir / Então foda-se sua viagem de ácido, eu preciso ir para casa“, canta Brock em mais uma faixa centrada em questões familiares e amadurecimento. A mesma abordagem crescente e temática acaba se refletindo na derradeira Back to the Middle, canção que preserva a essência dos antigos registros do grupo, porém, partindo de um novo direcionamento estético que vai das guitarras ao uso das vozes.

Compilado de ideias, estilos e possibilidades, The Golden Casket, como a própria imagem de capa parece apontar, segue como uma obra irregular, porém, repleta de bons momentos. São composições que oscilam entre instantes de maior calmaria e caos, emulando parte do extenso repertório acumulado pelo Modest Mouse em quase três décadas de carreira. Fragmentos instrumentais que pouco avançam criativamente quando próximos do fino repertório apresentado em alguns dos principais registros da banda, mas que sustentam nos versos um importante ponto de renovação. Um convite a mergulhar em novos temas e propostas conceituais de forma bastante sensível, como um produto claro de vivências e transformação pessoal experienciada por Brock ao longo dos anos.

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